BLOG DO PROFº ROBERTO CATARINO

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segunda-feira, 19 de março de 2012

A PRIMEIRA COSMOGONIA E COSMOLOGIA


A PRIMEIRA COSMOGONIA E COSMOLOGIA
Os Sumérios

“Os sumérios não conseguiram elaborar uma verdadeira filosofia no sentido que hoje damos à palavra”.
“Contudo, refletiram e especularam sobre a natureza e, mais particularmente, sobre a origem do universo, a sua organização e a sua vida”.
“Na opinião dos professores e sábios sumérios, os princípios componentes do universo eram o céu e a Terra; efetivamente, o termo sumério que designava ‘universo’ era an-ki, um composto que significava céu-Terra”.
“Entre o céu e a Terra afirmavam existir uma substância a que chamavam lil, palavra cujo significado aproximado é ‘vento’ (ar, sopro, espírito), e cujas características especiais seriam, parece, o movimento e a expansão”.
“Da mesma matéria que a atmosfera, eram constituídos o sol , a Lua, os planetas e as estrelas, mas acrescentando-se-lhes a qualidade da luminosidade. Rodeando o ‘céu-Terra’ por todos os lados, tanto por cima como por baixo, existia o oceano infinito, no seio do qual, de algum modo, o universo se mantinha fixo e imóvel”.
“Segundo os pensadores sumérios, o maior primordial fora o primeiro elemento do universo. Dele fizeram uma espécie de ‘causa primeira’ e de ‘primeiro motor’ e nunca se perguntaram o que teria existido antes do mar no tempo e no espaço”.
“Entre o céu e a Terra, separando-os, encontrava-se a ‘atmosfera’, dotado de movimentos e de expansão”.
“Tão longe quanto os textos nos permitem ir, os teólogos sumérios admitem como axiomática a existência de um panteão composto de seres vivos, de forma humana, mas sobre-humanos e imortais, que, apesar de invisíveis aos olhos dos mortais, criam e controlam o cosmos de acordo com planos bem estabelecidos e leis devidamente prescritas”.
“Por detrás deste pressuposto axiomático dos teólogos sumérios existia, indubitavelmente, uma inferência lógica, dado que eles não podiam ter visto qualquer desses seres de forma humana com os seus próprios olhos. Eles recebiam essa sugestão da sociedade humana tal como a conheciam e, em conseqüência, raciocinavam relativamente ao conhecido e ao desconhecido”.
“Os sumérios consideravam razoável presumir que os deuses que constituíam o panteão não eram todos da mesma importância nem de igual hierarquia”.
“E por analogia com a organização política do estado humano, era natural pressupor que a cabeça do panteão era um deus conhecido pelos outros como rei e soberano”.
“Os filósofos sumérios desenvolveram uma doutrina que se tornou dogma em todo o Próximo Oriente – a doutrina do poder criador da palavra divina. Tudo o que a divindade criadora tinha a fazer, segundo esta doutrina, era traçar os seus planos, proferir a palavra e pronunciar o nome”.
“Os teólogos sumérios chegaram ao que para eles foi uma satisfatória experiência metafísica para explicar o que mantém as entidades cósmicas e os fenômenos culturais, uma vez criados, contínua e harmoniosamente em ação, sem conflito e sem confusão”.
“Os homens de letras sumérios não produziram de modo algum qualquer gênero literário comparável com um tratado sistemático dos seus conceitos filosóficos, cosmológicos e teológicos”.
Mitógrafos vs. Filósofos

“Os mitógrafos eram escribas e poetas que tinham por principal incumbência e glorificação e a exaltação dos deuses e das suas façanhas. Ao contrário dos filósofos, não estavam interessados em descobrir verdades cosmológicas e teológicas”.
“O defeito de não distinguir entre o mitógrafo e o filósofo sumérios confundiu alguns dos modernos estudiosos do pensamento oriental antigo, particularmente aqueles fortemente marcados mais pela preocupação da ‘salvação’ do que pela da ‘verdade’ e tem-nos levado quer a subestimar quer a sobrestimar as faculdades especulativas dos antigos”.

Concepção Suméria da Criação do Universo

A principal fonte de informação da concepção suméria da criação do universo é a introdução do poema cujo título é Gilgamesh, Enkidu e os Infernos.
Através da tradução dos versos de poema e de análise do mesmo, , deduziu-se o seguinte:
1. Em algum momento céu e Terra estavam juntos, unidos.
2. Havia alguns deuses antes de a Terra e o céu se separarem.
3. Quando ocorreu a separação do céu e da Terra, An, o deus do céu, que ‘levou’ o céu, mas foi Enlil, deus do ar que levou a Terra.
Assim, concluiu-se que o céu e a Terra tinham sidos criados pelo mar primordial, ou seja, A deusa Namnu, cujo nome está descrito por meio de pictogramas empregado para o mar primordial, é designada com a mãe que deu origem à eles.
Concluiu-se também, que o céu e a terra forma concebidos pelos Sumérios da seguinte maneira: O mito O Gado e o Grão, que descreve o nascimento no céu dos deuses do gado e do grão, que eram enviados para a Terra para proporcionar prosperidade à humanidade.

Conceitos Cosmológicos dos Sumérios

A explicação do universo baseava-se nos conceitos:
1. Ao princípio era o mar primordial, Nada se diz sobre a sua origem ou nascimento e não é improvável que os Sumérios o tenham concebido como eternamente existente.
2. Este mar primordial produziu a montanha cósmica, composta do céu e da Terra ainda unidos.
3. Personificados, e concebidos como deuses de forma humana, o céu, ou seja, An, desempenhou o papel de macho e a Terra, isto é, Ki, o de fêmea. Da sua união nasceu o deus do ar, Enlil.
4. Entil, o deus do ar, separou o céu e a Terra e, enquanto seu pai, An, levava o céu, Enlil levava a Terra, sua mãe. A união de Enlil e sua mãe, a Terra, foi a origem do homem, dos animais e das plantas e os estabelecimento da civilização.

O Mito de Sin e o Pensamento dos Sumérios sobre os Deuses

“Acerca do nascimento do deus da Lua, Sin, temos um encantador e muito humano mito que parece ter sido elaborado para explicar a geração do deus da Lua e de três divindades que forma condenadas a consumir as suas vidas no mundo inferior”.
“O mito conclui com um breve hino triunfal dedicado a Enlil como deus da abundância e da prosperidade, cuja palavra era definitiva.
“Este mito ilustra vivamente o caráter antropomórfico dos deus sumérios. Mesmo os mais poderosos e os mai célebres de entre eles eram concebidos com forma, pensamento e ações humanos”.
“Os sumérios pensavam que os deuses vivem na montanha do céu e da Terra, o lugar onde o Sol nasce, pelo menos quando a sua presença não era necessária nas particulares entidades cósmicas que se encontravam sob a sua alçada”.
“Os pensadores sumérios, ao que parece, não se devem ter perturbado demasiadamente com problemas realistas, e assim, não temos informações certas de como imaginavam que os deuses chegavam aos seus diversos templos e santuários, nem como realizavam atividades humanas.”
“Os sábios sumérios desenvolveram numerosas noções teológicas numa vã tentativa para encontrar uma solução para os aspectos inconscientes e contraditórios inerentes a um sistema religioso politeísta. Mas, a julgarmos pelos dados matérias utilizáveis, eles nunca lhes deram expressão escrita sistemática, não tendo sido, portanto, extensamente divulgadas”.

Os Deuses
“Os Sumérios to terceiro milênio a. C. distinguiam-se, pelo menos no nome, centenas de deuses”.
Destas centenas de divindades, as principais eram quatro: An, Enlil, Enki e Ninhursag.
An
“An foi adorado na Suméria, ininterruptamente, durante milhares de anos, mas perdeu muito da sua importância original. Tornou-se pouco a pouco uma personagem de segundo plano no panteão e é raramente mencionado nos hinos e nos mitos das épocas mais recentes, ao mesmo tempo que a maior parte dos seus poderes passaram para o deus Enlil”.
Enlil
“Enlil, deus do ar e da atmosfera, é a de longe a divindade mais importante do panteão sumério”.
“(...) Os mais antigos documentos inteligíveis apresentam Enlil como o pai dos deuses, o rei do céu e da Terra, o rei de todos os países. Reis e soberanos orgulham-se de ter recebido de Enlil o governo do país, de ele ter feito a prosperidade do seu povo, de lhes ter dado terras para conquistarem. Os hinos e s mitos mais recentes informam-nos de que Enlil era considerado como uma divindade benéfica, responsável pela concepção e criação dos caracteres mais importantes do universo”.
“Os primeiros historiadores da religião suméria acusaram-no de ser uma divindade selvagem e destruidora e outros, mais recentes, mantiveram exatamente este juízo. Mas, quando hoje analisamos os hinos e os mitos, particularmente aqueles que foram publicados depois de 1930, encontramos neles um Enlil glorificado como um deus amável e paternal, que vela pela segurança e bem-estar de todos os homens, especialmente dos habitantes da Suméria”.


Enki
“O terceiro dos principais deuses sumérios era Enki, deus do abismo, ou, segundo a palavra suméria, o abzu. Enki era o deus da sabedoria, e originalmente organizou a Terra, de harmonia com as decisões de Enlil, que traçara os planos universais”.
“As 100 primeiras linhas do poema Enki e a Ordem do Mundo são demasiado fragmentárias para que possamos reconstruir-lhes o conteúdo. Quando o texto se torna legível, Enki está a decretar o destino da Suméria”.
Ninhursag
“A quarta entre as divindades criadoras era a deusa-mãe Ninhursag, igualmente conhecida sob o nome de Ninmah (a dama majestosa). Existem razões para supor que originalmente o seu nome fora Ki (Terra), que ela tenha sido considerada a esposa de An ( Céu) e que ambos foram os pais de todos os deuses”.
“Ela era considerada como a mãe de todas as criaturas vivas, a deusa-mãe. Num mito que fala desta deusa, desempenha ela um papel importante na criação do homem e num outro mito parte dela uma cadeia de nascimentos que leva a um tema de fruto proibido”.

Me, as leis divinas

“Me, as leis divinas, são normas e regras que, segundo os filósofos sumérios, governam o universo desde os dias de usa criação e o mantêm em funcionamento”.
“Um dos antigos poetas sumérios, ao compor ou redigir um dos seus mitos, julgou que vinha a propósito dar uma lista dos me relacionados com a cultura. Divide a civilização, segundo o conhecimento que dela tinha, numa centena de elementos. No estado atual do texto são apenas inteligíveis cerca de sessenta e alguns são palavras mutiladas que, sem contexto explicativo, apenas nos dão uma vaga idéia do seu real sentido”.
Há uma lista das partes mais inteligíveis, e seguindo a própria ordem escolhida pelo antigo escritor sumério, segue abaixo: 1 - soberania; 2- divindade; 3- a sublime e permanente coroa; 4- o trono rela; 5- o sublime ceptro; 6- as insígnias reais; 7- o sublime santuário; 8- o pastoreio; 9- a realeza; 10- a durável senhoria; 11- a divina senhora ( dignidade sacerdotal); 12- o ishib (dignidade sacerdotal); 13- o lumah ( dignidade sacerdotal); 14- o gulug (dignidade sacerdotal); 15- a verdade; 16- a descida aos Infernos; 17- a subida dos Infernos; 18- o kurgarru (o eunuco); 19- o girbadara ( o eunuco); 20- o sagursag ( o eunuco); 21- o estandarte (das batalhas); 22- o dilúvio; 23- as armas; 24- as relações sexuais; 25 a prostituição; 26- a lei; 27- a calúnia; 28- a arte; 29- a sala do culto; 30- a hierodula do céu; 31- o gusilim (instrumento musical); 32- a música; 33- a função de ancião; 34- a qualidade de herói; 35- o poder; 36- a hostilidade; 37- a retidão; 38- a destruição das cidades; 39- a lamentação; 40- as alegrias do coração; 41- a mentira; 42- o país rebelde; 43- a bondade; 44- a justiça; 45- a arte de trabalhar a madeira; 46- a arte de trabalar os metais; 47- a função dos escribas; 48- a profissão de ferreiro; 49- a profissão de curtidor; 50- a profissão de pedreiro; 51- a profissão de cesteiro; 52- a sabedoria; 53- a atenção; 54- a purificação sagrada; 55- o medo; 56- o terror sagrado; 57- o desacordo; 58- a paz; 59- a fadiga; 60- a vitória; 61- o conselho; 62- o coração perturbado; 63- o julgamento; 64- a sentença do juiz; 65- o lilis ( instrumento musical); 66- o ub (instrumento musical); 67- o mesi (instrumento musical); 68- o ala ( instrumento musical).
“Os pensadores sumérios não formularam um sistema de filosofia, nem desenvolveram um sistema explícito de leis e princípios morais. Não redigiram formais tratados de ética. O que sabemos da moral e da ética sumérias tem de ser pesquisado nas diversas obras literárias sumérias”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


KRAMER, S.N. A História começa na suméria. Capítulo XII, pág. 101 a 127.