FICHAMENTO
De Sergio F. Alois Schermann
por
Roberto Catarino da Silva
- O termo “bizantino” é aplicado à entidade política centrada inicialmente nos Bálcãs e no Mediterrâneo oriental, que pode ser considerada como continuação do império romano.
- Herdeiro das pretensões universalistas do império romano tardio, o império bizantino teve uma realidade territorial bastante cambiante ao longo de sua história. Nesse aspecto é compreensível a sua caracterização como anômalo porque, ao contrário dos demais impérios, as frequentes contrações territoriais tornaram a exploração imperialista mais uma exceção que propriamente a regra.
- Para muitos historiadores, o império romano já poderia ser denominado bizantino a partir do final do século III, com a presença dos elementos “orientais” assimilados a monarquia persa.
- Desconsiderando qualquer grande ruptura no século V e percebendo uma continuidade na sociedade romana tardia até o século VI, consideramos para este estudo o século VI como o inicio do período bizantino.
- Desde os séculos iniciais da Idade Média, os bizantinos foram considerados como um “outro” no discurso dos cronistas e historiadores ocidentais. (...) De modo geral, o império bizantino tem chamado a atenção dos historiadores desde o século XIX por construir um modelo de realeza teocrática, que é sempre contraposto à experiência ocidental.
- Tanto o Ocidente medieval quanto o império bizantino e o califado islâmico seriam herdeiros do modelo da realeza sagrada do império romano tardio, onde o imperador era visto como um intermediário entre Deus e o povo cristão.
- O período de Justiniano, marcado pela tentativa de restabelecimento do império mediterrânico e pelo esforço de codificação da legislação empreendido pelo imperador. Segue-se a ele o século VII, marcado pela questão iconoclasta, quando se vê um novo desenvolvimento da identidade religiosa do Estado. Por fim, os séculos finais do império, e que são marcados pela fragmentação territorial e predominância dos interesses ocidentais sobre o destino de Bizâncio.
- O período Justiniano é considerado um marco pela historiografia por representar uma transição da Antiguidade para a Idade Média. A divisão estabelecida por Diocleciano no final do século III teve como razão inicial a necessidade de ter o poder imperial próximo aos teatros de guerra.
- A constatação de que os romanos consideravam a si próprios como vivendo em um império, em alguns momentos governados por dois imperadores, coloca a ação de Justiniano dentro de um contexto mais apropriado e explica aquilo que para alguns historiadores significava o fruto de uma ambição desmedida, que seria responsável pela crise do século seguinte.
- As pessoas acreditavam que a salvação individual de cada alma dependia da salvação do Império, o que só aconteceria através de uma rígida adesão à ortodoxia. O crescimento e o enriquecimento da Igreja a partir do século IV, a expansão do monarquismo e as responsabilidades que a Igreja passava a assumir diante das camadas urbanas mais pobres.
- No período Justiniano, a realidade era ainda de um império pluriétnico e plurilingüístico, que ganhava coesão através do aparato fiscal e administrativo do governo. A lei e o controle das províncias reforçavam a idéia de pertencimento ao império.
- Um princípio fundamental do sistema de taxação bizantino era o de assegurar a extração do máximo possível de rendimento sem que isso prejudicasse a base social da produção rural. Justiniano procurou apresentar as mudanças como um desenvolvimento natural a partir de forças internas ou como um retorno aos valores tradicionais.
- Os imperadores a partir do século IV apresentaram seu poder de forma diferente, é questionável que a natureza desse poder fosse intrinsecamente diferente. Os maiores obstáculos impostos ao exercício arbitrário do poder durante o período republicano, já estavam ausentes desde o início do principado.
- A própria transmissão do poder de pai para filho, embora estivesse claramente disseminada no império bizantino, não dispunha de um suporte institucional ou ideológico.
- O poder legítimo era aquele que deixava espaço de ação ao patriarca e que não acumulava a função de chefe do exército. O corpus iuris civillis, que Justiniano via como um complemento da sua atividade militar, e que iria trazer internamente a concórdia que as armas traziam no âmbito externo, era uma etapa não somente para a preservação da lei mas também de uma reinterpretação bem adequada às necessidades do poder imperial.
- As transformações na organização social seguiram a tendência em curso desde o período de Justiniano. A aristocracia senatorial do período romano foi perdendo gradativamente sua importância, com a prática dos imperadores de promoverem cada vez mais a ascensão de “homens novos” a parir do critério do mérito.
- No século VIII, a grande mudança foi a introdução de um sistema de aferição das taxas, pelo qual o cálculo era feito de acordo com a capacidade dos produtores de pagar, e ao a partir das necessidades do império. Era necessário ajustar o discurso cristão triunfalista ao novo contexto. A idéia de que a vitória imperial dependia do favor divino transformara o Deus cristão no grande Deus da vitória.
- Ao longo do século VII, o discurso imperial passou a enfatizar de forma crescente mais a piedade pessoal que a cívica do imperador. Ao longo do século VII, os bizantinos começaram a explorar imagens apocalípticas para explicar o momento em viviam. O período iconoclasta, que se inicia com a ascensão de Leão III em 717, é tradicionalmente visto como um momento de crise.
- O imperador Constantino V, filho de Leão III, redigiu uma obra que seria o primeiro esboço de uma teologia iconoclasta. A verdadeira imagem deveria ser consubstancial ao seu modelo, e daí ele infere que a única imagem possível de Cristo era a Eucaristia.
- Transformação da identidade religiosa em identidade política foi um fenômeno típico do período iconoclasta e pode ser ligado diretamente ao contato entre bizantinos e árabes no Mediterrâneo Oriental.
- No entanto, além da mudança da conjuntura política, com a reaproximação entre Roma e o Império germânico e a eclosão das Cruzadas, o poder imperial iniciava uma curva declinante, de forma que os elementos da crise que marcaria os séculos finais do império já estavam presente.
- Se durante muitos séculos o poder imperial fora o garantidor da ortodoxia e o responsável pela unidade da Igreja, nesses dois séculos finais era a ortodoxia que colocava todas as suas forças a serviço da idéia de um poder imperial universal. Com o avanço sérvio, com as pretensões gregas no Peloponeso, além de búlgaras e albanesas, o império somente poderia vivenciar os seus últimos momentos, caso estivesse concentrado em uma autoridade moral sem poder efetivo, como o patriarcado de Constantinopla.
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