BLOG DO PROFº ROBERTO CATARINO
segunda-feira, 30 de maio de 2011
AS MISSÕES JESÚITICAS NA AMÉRICA ESPANHOLA
Não é um passado glorioso que seja muito lembrado nas "histórias livrescas", pois, assim como os demais méritos da Igreja, com a instalação da república maçônica foram todos relegados a uma educação pretérita, assim chamada de decrépita; e alguma vezes, em ato de extrema audácia e ignorância, até apelidadas de utopias. Mas as ruínas de mais de quatro séculos de existência continuam a resistir ao tempo não só em território Brasileiro, mas também em território Argentino e Paraguaio.
Os mesmos Jesuítas também doaram sua vida nesta empresa de catequização, algo que se constitua como o famoso 4º carisma da Ordem,não há como dissociar os Jesuítas da implantação da civilização na América do Sul, já que foram eles os corajosos guerreiros cristãos a fincar moradia nestas paragens, vindos a pedido das Coroas da Espanha e Portugal. Junte-se a isto a sólida formação teológica que imprimia um caráter indelével de eloquência e santidade, além dos vastos conhecimentos que eram professados em história e filosofia que tornavam os Jesuítas como os mais aptos a desenvolverem uma cultura cristã, que a priori se tornaria meio mais fácil para a vinda definitiva dos Europeus. Ligue-se a isto a devoção total ao Pontífice, a lealdade e o amor no ensino das crianças, e teremos enfim uma dádiva de Deus que fora enviada as terras descobertas.
Famosas eram as missões (cuja gênese data de 1635 e pleno desenvolvimento em 1678) que se implantavam em vastos territórios para aglutinar em torno de sí várias aldeias e catequizá-las, possuíam mais eficácia na catequização do que as Missões itinerantes, que sempre, na sua ausência, os jesuítas obtivessem do papa o poder de erguer altares onde bem lhes interesar-se e assim consolidar seus povoados.
Uma das mais singulares dentre estas é a Missão da Colônia de Sacramento, que se espalha por diversos centros, dentre eles o de São Miguel das Missões, San Ignacio Mini, Nuestra Señora de Loreto e Santa Maria Mayor (os três últimos em território Argentino), todas integrando a área pastoral chamada de Missões dos Sete Povos. O principal objetivo delas era firmar a civilização cristã no América portuguesa e espanhola, todavia, sem os vícios e males que já nesta época deploravam na Europa; algo que foi feito com a mais singular eficácia, mas destruído enfim pela inveja e ganância dos que somente enxergavam os índios como animais a serviço dos "civilizados".
A realidade dentro desses centros era demasiadamente diferente das aldeias locais em que viviam os índios sob variados aspectos. A principio, quando se encontrava uma nova aldeia, os Jesuítas procuravam o contato em algumas das línguas tupis e guaranis que dominavam. Quando se reuniam várias aldeias, toda se comprometendo a viver em união estável, se iniciava a catequização, logo todos eram agrupados em grandes cidades auto-suficientes em diversas matérias, embora na maioria das vezes dependessem de doações da própria ordem ou da nobreza portuguesa e espanhola para seu mantenimento.
As construções, até hoje existentes, não se limitavam a Igrejas, mas também a cemitérios, claustros, presídios, muralhas e trincheiras (para proteção contra ataques inimigos), casas dos índios, orfanatos, oficinas e etc, sempre com a cooperação dos neo-convertidos que, embebidos de ardor religioso, imprimiam todos os esforços para conquistarem o céu e viverem segundo os dogmas da Santa Igreja4. O centro de tudo era a Santa Cruz, geralmente erguida em frente às Igrejas, e as próprias paróquias, muito bem elaboradas para o contexto rudimentar que a cercava.
Esse poder teocrático deixou como legado uma língua nativa oficial no Paraguai, única na América Espanhola. No desenvolvimento técnico, a fundição de ferro e o uso da terra para o plantio; no arqueológico, vestígios de ruínas de imensos templos e cidades utópicas.
Nas reduções, os objetivos principais da Companhia de Jesus eram a doutrina e a catequese, bem como a vida comunitária. O programa das edificações deveria satisfazer as necessidades de uma comunidade com vida autônoma e organização socioeconômica quase auto-suficiente, dimensionada para abrigar de 4.000 a 5.000 almas – meta que, quando atingida, levava à criação de outra redução e assim progressivamente, como determina a Coroa Espanhola, ao tomar posse da terra.
Partindo para o aspecto abstrato e estético, as povoações eram avançadas e até mesmo comparadas aos Feudos europeus pela organização rígida e disciplinada, governo centralizado e nível cultural abrangente.
As terras eram concedidas em caráter permanente e hereditário, sendo obrigatório o trabalho durante o período de dois dias em terras coletivas para o sustento geral (chamadas de "Propriedades de Deus"). As jornadas de trabalho duravam em média seis horas, possuindo-se em cada redução como referencial um relógio de sol. O comércio era limitado em seu início, fortificando-se com o estabelecimento interno das Missões, utilizando-se como moeda: fumo, mel silvestre e outros artigos de maior valor. A saúde era especialmente cuidada por um grupo de enfermeiras organizadas que receitavam remédios fitoterápicos, ao que a mortandade decaia continuamente e sempre quando acontecia um falecimento, este era acompanhado pelos religiosos que empregavam a extrema-unção, prova magna da dedicação de ambos (religiosos e enfermeiras).
As construções eram sólidas, sempre com aspecto rudimentar, entretanto, majestosas ; as ruas eram expandidas em pavimentos retos. Sempre existiam representantes da Coroa, a fim de proteger os territórios e manter a soberania espanhola. Ainda, as produções internas, além de alimentar aos próprios habitantes, também eram enviados a coroa para fins de exportação, o que de certo modo corrobora para qualificar os indígenas como súditos da Coroa e merecedores de respeito jurídico. "Em meados do século XVII, muitas das reduções já eram prósperas o bastante para desenvolver um ativo comércio com as cidades e províncias próximas, chegando a exportar muitos produtos para a Europa, incluindo instrumentos musicais e esculturas, e importando outros tantos. Em diversos casos o seu sucesso foi de fato notável, superando em muito o nível de vida dos colonos assentados nas vilas e cidades, desenvolvendo uma estrutura administrativa e econômica muito mais eficiente e humana, e práticas tecnológicas mais avançadas. O crescimento das Missões levantava a ira de muitos, sendo considerada especialmente por eles como indícios de uma rebelião teocrática, o que não faz sentido dada a submissão incontestável da Ordem dos Jesuítas às Coroas portuguesa e Espanhola. Tal fora a pressão e a perseguição, que o próprio Papa Clemente XIV em 1773, por via do documento Dominus ac Redemptor, suprimiu a Ordem; e que se ressalte que a suprimiu para que a mortandade de fiéis e padres decaísse e não por suspeitas da Santa Sé, comprovando-se a idoneidade da Ordem quando do seu restabelecimento em 1814 pelo Papa Pio, como as povoações eram muito ligadas de maneira intrínseca à Ordem dos Jesuítas, elas continuaram a existir sob a proteção de outras ordens, como a Franciscana, mas logo caindo em deterioração, o fracasso advém principalmente da impaciência das Coroas que desejavam uma incorporação (submissão) mais rápida dos indígenas, o que por vezes poderia demorar décadas, embora fosse viável religiosamente.
A Milícia de Cristo promoveu, a piedade e a tradição católica nos primeiros habitantes da América; tais cidades avançadas são exemplos de organização.
O quilate dos Jesuítas advindos da Europa ajudou a formar essas nações que até hoje, principalmente por meio do patrimônio que sobreviveu, pode ser admiradas.
Outro fator foi o ciúme de outras ordens religiosas em Roma, rumores de minas de ouro escondidas e conspiração jesuítica para a criação de Estado independente colaboraram para a extinção da Companhia de Jesus em 1759. Os jesuítas das missões paraguaias foram presos e deportados para a Europa em 1767.
Muitos índios voltaram para as selvas ou migraram para Buenos Aires e outras cidades, graças aos ofícios aprendidos com os padres.
Um comentário:
Assisti ao longa "A Missão" e fiquei curiosa à respeito da história. Foram infelizes as decisões dos superiores da igreja. Talvez, se as ações fossem outras, nossa América seria bem melhor. Obrigada pelo belo texto, Elizabeth.
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