BLOG DO PROFº ROBERTO CATARINO

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quinta-feira, 13 de junho de 2013

QUEM FOI CLEMENTE DE ALEXANDRIA?

QUEM FOI CLEMENTE DE ALEXANDRIA? Por Roberto Catarino “Clemente foi o primeiro grande teólogo cristão a lançar mão da filosofia grega sem, no entanto, deixar de considerar a fé superior àquela”. A afirmação é da professora Rita de Cássia Codá dos Santos, tradutora da obra “Exortação aos Gregos”, de Clemente de Alexandria, que acaba de ser lançada pela É Realizações. Rita acredita que, para o cristão do século XXI, Clemente continua atual, pois sua exortação “vai além do teológico; é também uma lição de estilo poético de rara beleza, um profundo conhecedor da natureza dos gregos que, por metonímia, é a de todo homem. Para ele, o que impede o crescimento espiritual são sempre o orgulho e a ignorância. A verdadeira sabedoria que o homem pode adquirir é simplesmente centelhas do logos divino. E não há outra sabedoria”. Tito Flávio Clemente (145-215) foi um homem de grande erudição, um pepaideumenos , como se diz em grego clássico. Provavelmente pertencia à alta classe social. Não se sabe, ao certo, se nasceu em Atenas ou em Alexandria. Ao converter-se ao cristianismo, com mais de trinta anos, andou pelo Oriente Médio (Síria, Palestina) em busca da verdadeira gnose, mas foi na Magna Grécia (sul da Itália) que ele encontrou um mestre cristão, Panteno, de formação estoica, que o fez entender que não precisava deixar de lado a filosofia grega para se tornar um bom cristão. Que o Evangelho e a sabedoria dos helenos não são de todo inconciliáveis. Muito pelo contrário, houve, segundo Panteno, um desígnio divino para que o cristianismo se encontrasse com a cultura helênica. Em verdade, Clemente foi o primeiro grande teólogo cristão a lançar mão da filosofia grega sem, no entanto, deixar de considerar a fé superior àquela. Com o método alegórico de Fílon de Alexandria , ele continua e aprofunda a tradição catequética de Panteno. Outro tópico essencial em Clemente é a questão da gnose. Ele propõe uma gnose cristã, em oposição a uma gnose herética ou heterodoxa. E é isso que vai envolvê-lo numa cadeia de mal-entendidos históricos e doutrinais. Primeiramente foi Fócio , patriarca de Constantinopla (820-895) que, sem o devido distanciamento histórico, deixa Clemente numa situação ambígua perante a ortodoxia dogmática, após ler e resenhar as obras clementinas; o problema estava nas Hypotypóseis (Ensaios/Demonstrações). Depois da avaliação de Fócio, esta obra entrou no rol das desaparecidas. Depois, em 1748, o papa Bento XIV , através da bula Postquam intelleximus, excluiu Clemente de Alexandria do Cânon. Clemente será um pregador da e para a elite grega de Alexandria. E seu maior legado é a fusão magistral que faz da filosofia grega com o cristianismo. Não há incompatibilidade entre a cultura e a fé. Daí ele se lançar incisivamente contra os cultos politeístas e os mistérios de iniciação dos gregos. Isso, para ele, era algo ininteligível. O culto de estátuas de deuses cuja história nem sempre é edificante, muitas delas imorais e destrutivas, os mistérios iniciáticos, tudo era risível quando confrontado com a arrogância e a sabedoria grega. Outra ideia fundamental é “transfiguração” que ele faz de certos tópicos do paganismo grego para “mostrar” Cristo, o logos divino aos gregos. Ele usa todo o léxico dos mistérios para se referir a Cristo. E tudo isso envolto numa linguagem altamente poética. Por fim, ele propõe aos gregos abandonar a loucura do paganismo e acolher o logos divino que, ao lado de grandes tópicos da filosofia grega, é a verdadeira filosofia, o “cântico novo do logos”. Para o cristão do século XXI, creio que Clemente continua atual, pois sua exortação vai além do teológico; é também uma lição de estilo poético de rara beleza, um profundo conhecedor da natureza dos gregos que, por metonímia, é a de todo homem. Para ele, o que impede o crescimento espiritual são sempre o orgulho e a ignorância. A verdadeira sabedoria que o homem pode adquirir é simplesmente centelhas do logos divino. E não há outra sabedoria. Clemente, como um aristocrata, passou por todos os níveis da paidéia (educação) grega. E a filosofia era o último estágio da formação do homem grego. Portanto, ele era um filósofo, no sentido grego, mesmo sem ter deixado um sistema próprio. Era, digamos, um grande erudito. Seu contato com Panteno foi decisivo para a sua postura em face do cristianismo. Ele aprende com o mestre siciliano que o cristianismo não rechaça a filosofia grega, que um precisa do outro, porque a filosofia foi o primeiro relampejo do logos. O que ele faz, na verdade, é uma bela síntese cultural; aproveita não apenas a filosofia helênica, mas também a poesia, a música e a medicina para mostrar que não há nenhum demérito em acatar o cristianismo, mesmo para aqueles que se consideram cultos. Fonte: Alexandria, Clemente de. Exortação aos Gregos. Tradução: Rita de Cássia Codá dos Santos. São Paulo: É Realizações, 2013

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