Olga de Kiev
Princesa, Santa
890-969
O
processo de cristianização dos diversos povos precisou de muito tempo para se
concretizar. Assim foi com o Principado de Kiev, que nascera no século VII e
era o centro de um império que ia do Mar Negro ao Báltico, chegando até o Rio
Volga. Somente no século XVII, por meio doTratado de Pereiaslav, a
Ucrânia, nome atual do antigo principado, ficaria sob a influência do império
russo.
A fé
cristã começou a penetrar na região graças aos missionários que vinham não só
de Bizâncio, mas também dos territórios vizinhos dos eslavos do Ocidente - os
quais celebravam a liturgia em língua eslava, segundo o rito instaurado pelos
Santos Cirilo e Metódio - e das terras do Ocidente latino.
Como
atesta uma antiga Crônica, chamada Crônica de Nestor ("Povest' Vremennykh
Let"), no ano de 944 já existia em Kiev uma igreja cristã dedicada ao
Profeta Elias.
Olga,
a primeira santa russa inserida no calendário católico bizantino, é considerada
o elo entre a época pagã e a cristã, na história das populações eslavas. As
fontes que a citam são numerosas e todas de relevância histórica.
Delas
aprendemos que Olga nasceu em 890, na aldeia Vybut, próxima de Pskov e do rio
Velika, Rússia. Era uma belíssima jovem típica daquela região. Em 903, quando o
príncipe Igor a avistou, logo quis casar-se com ela, apesar de sua pouca idade.
Na realidade, Olga era filha do chefe dos Variagi, uma tribo normanda de origem
escandinava, responsável por vários pontos estratégicos, pois se dedicavam à
exploração do transporte e do comércio.
O
seu casamento foi um símbolo concreto da fusão do povo russo com aquele
variago, que ao final do século IX começava a viver sob a influência do
cristianismo. Em 945, o príncipe Igor, marido de Olga, foi assassinado e ela,
com um temperamento correto, mas violento, vingou-se com firmeza. Mandou matar
muitos chefes inimigos e, para os sobreviventes, impôs tributos e taxas de
todos os tipos.
Tornou-se
a regente para o filho Esviatoslav, de três anos de idade, governando Kiev com
esperteza política e colocando o principado numa excelente condição financeira.
Era amada pelo povo, que a reconhecia como justa e misericordiosa, mas também
severa e inflexível. Educou o filho corretamente, mas não teve a felicidade de
vê-lo converter-se ao cristianismo como ela tinha feito. Essa satisfação
desfrutou seu neto Vladimir, que, além de tornar-se cristão e baptizado, depois
veio a ser o "baptizador da Rússia", "novo apóstolo" e
santo da Igreja.
Olga
tentou estreitar os laços com o sólido Império de Bizâncio por meio do
casamento de seu filho com uma princesa de lá. Em 957, viajou para
Constantinopla, mas não obteve bons resultados, para desilusão dos cristãos e
satisfação dos pagãos. Por isso os cristãos buscavam apoio no imperador Otto I
da Saxónia, que era católico. Em 959, eles lhe pediram que enviasse um bispo
para a Rússia, o qual ficou só três anos, pois foi expulso devido à revolta dos
pagãos.
Olga
rezava dia e noite pela conversão do filho e para o bem dos súbditos. Ao
terminar a regência, segundo as leis da época, retirou-se para suas actividades
privadas, dando continuidade às obras de seu apostolado e de missionária.
Construiu algumas igrejas, inclusive a de madeira dedicada à santa Sofia, em
Kiev.
Viveu
piamente e morreu com quase oitenta anos, em 11 de julho de 969. Dela escreveu
seu biógrafo: "Antes do batismo, a sua vida foi manchada por fraquezas e
pecados. Ela, mesmo assim, tornou-se santa, certamente não pelo seu próprio
merecimento, mas por um plano especial de Deus para o povo russo".
A
veneração por santa Olga começou durante o governo do seu neto Vladimir, que,
em 996, mandou transferir as relíquias da avó para a igreja que mandara
construir especialmente para recebê-las. O seu culto foi confirmado pela Igreja
no Concílio Russo de 1574, mantendo a festa litúrgica no mesmo dia em que
ocorreu o seu trânsito.
Após
a morte de Olga, a reação pagã de seu filho impediu qualquer desenvolvimento do
cristianismo e todas as construções de igrejas foram suspensas, mas diversos
ícones foram conservados. Conta-se que o príncipe Vladimir, neto de Olga,
quando ainda pagão e meditando sobre sua possível conversão, ficou muito
impactado por um ícone do juízo final, e a imagem ajudou-o em sua decisão.
Recebido o batismo, o príncipe Vladimir declarou sua necessidade de venerar os
ícones.
Segundo
uma antiga lenda, em 987 o Príncipe Vladimir de Kiev enviou delegações às
distintas regiões do mundo, tendo em vista examinar as religiões professadas, a
fim de decidir qual era a mais apropriada para seu reino. Quando os delegados
regressaram, recomendaram a Vladimir a fé professada pelos gregos, já que,
assistindo a um ofício religioso na Catedral de Santa Sofia em Constantinopla, “nós
não sabíamos se estávamos no céu ou na terra”. Depois do batismo do
príncipe Vladimir, muitos de seus súditos também se batizaram nas águas do Rio
Dnieper, no ano de 988.
Fonte:
Igreja Ortodoxa Russa Patriarcado de Moscou
Ivanov,
V.. El Gran Libro de los Iconos Rusos Ed. Paulinas,
Popova,
Olga, et al. Ícone. Mondadori, Milano, 2003.
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