São
Basílio Magno – (Basílio de Cesaréia)
Honra e ornamento da Igreja
Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, recebeu o
título de Pai dos monges do Oriente, assim como São Bento é considerado o
Patriarca dos monges do Ocidente
Por Roberto Catarino
São Basílio de Cesaréia da Capadócia, na Ásia Menor, é de uma família de
santos. Sua avó paterna foi Santa Macrina, a Antiga, que confessou a fé em
Jesus Cristo durante a perseguição de Maximiano Galério. Seus pais foram São
Basílio, o Velho, e Santa Emília, filha de um mártir. De seus nove irmãos, mais
três foram elevados à honra dos altares: Santa Macrina, a Jovem, São Gregório
de Nissa e São Pedro de Sebaste. Basílio, seu irmão Gregório de Nissa e seu
amigo Gregório Nazianzeno formam o trio chamado “os três capadocianos”.
Basílio nasceu em Cesaréia no final do ano 329. Seu
pai era advogado e professor, vinha de família rica e considerada
latifundiária, da região do Ponto. Sua mãe era de família nobre da Capadócia. O
menino foi entregue aos cuidados da avó Macrina, para a primeira educação.
Afirmará ele depois: “Nunca mais olvidei as fortes impressões que faziam à
minha alma ainda tenra as palavras e os exemplos dessa santa mulher”. Para
defender-se da acusação de heterodoxia, afirmará: “Jamais traí a fé. Como a
recebi ainda menino sobre os joelhos de minha avó Macrina, assim a prego e
assim a ensinarei até o meu último alento”.
São Basílio estudou inicialmente com o pai, depois
em Cesaréia, Constantinopla e Atenas. Nas duas últimas, teve como condiscípulo
São Gregório Nazianzeno, a quem se uniu em estreita amizade, e a quem devemos
muitos dados de sua vida.
Cristão não só de nome, mas de
fato
São Gregório atesta no panegírico de seu amigo: “Ambos
tínhamos as mesmas aspirações; íamos atrás do mesmo tesouro, a virtude. Só
conhecíamos dois caminhos: o da igreja e o das escolas públicas. Não tínhamos
nenhuma ligação com os estudantes que se mostravam grosseiros, impudentes ou
desprezavam a religião, e evitávamos os que tinham conversas que poderiam nos
ser prejudiciais. Tínhamo-nos persuadido de que era ilusão mesclar-se com os
pecadores sob pretexto de procurar convertê-los, e deveríamos temer sempre que
nos comunicassem seu veneno. Nossa santificação era nosso grande objetivo, e o
de sermos chamados e sermos efetivamente cristãos. Nisso fazíamos consistir
toda nossa glória”.(1)
Mundanismo, vanglória e sua
conversão
Em Cesaréia passou por uma “conversão”. Embora
tivesse sempre levado vida muito regular, procurando sempre a vontade de Deus,
os aplausos e louvores que recebia eram tantos que, segundo seu irmão Gregório
de Nissa, isso deixou traços de mundanismo e auto-suficiência no jovem
professor, que sentiu a vertigem da vanglória. Mas em casa, vendo o exemplo de
sua irmã Macrina, que levava a vida austera de virgem consagrada,
impressionou-se: “Comecei a despertar como de um sonho profundo, a
abrir os olhos, a ver a verdadeira luz do Evangelho e a reconhecer a vaidade da
sabedoria humana”. Só então, conforme costume da época, foi batizado e
recebeu a ordem sacra de Leitor. Resolveu então vender tudo o que tinha, dando
o produto aos pobres, e fazer-se monge.
Ordenador e legislador do
monacato no Oriente
Desejava fazer tudo
da melhor maneira possível. Resolveu então viajar pela Síria, Mesopotâmia e
Egito para visitar os vários cenobitas desses lugares a fim de adquirir um
conhecimento profundo dos deveres do gênero de vida que tinha adotado. É
preciso notar que a vida religiosa em comum dava seus primeiros passos e ainda
não havia aparecido quem a ordenasse, como fez depois São Bento no Ocidente.
Se a impureza de corpo chocava Basílio, muito mais
a de alma. Por isso era implacável contra toda heresia ou doutrina dúbia. Tinha
um profundo horror ao arianismo, então triunfante até no trono imperial.
Voltando a Cesaréia, recomeçou a colaborar com o
bispo local Dianey, a quem muito admirava. Mas, como este entrou numa espécie
de acordo com os arianos, rompeu com ele e retirou-se para o reino do Ponto,
onde já se haviam fixado sua mãe e irmã. Elas tinham fundado um convento
feminino às margens do Íris. Na margem oposta Basílio fundou um convento
masculino, que dirigiu durante quatro anos. Nele ingressaram também seu amigo
Gregório Nazianzeno e seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste.
O governo que Basílio exercia no mosteiro era muito
suave, todo ele de exemplo mais do que de palavras. Sua doçura e paciência eram
a toda prova. Os monges levantavam-se antes do despontar do dia, para louvar a
Deus com a oração e canto de salmos. Liam os Livros Sagrados e alternavam a
oração com o estudo, dedicando-se, nos tempos livres, ao trabalho manual. De
quando em quando Basílio os reunia para ouvir suas dúvidas ou propostas, e os
orientava no caminho da perfeição. Surgiu assim sua obra Regras Maiores
e Menores, suma de catequese monacal, indispensável no desenvolvimento da
vida cenobítica. Graças a São Basílio Magno, a vida em comunidade iria afinal
firmar-se no cristianismo, dando base ao movimento monacal que forjou depois a
Idade Média. “Se [São Basílio] não criou o monaquismo oriental,
infundiu-lhe uma vida nova quando se achava ameaçado de um grande perigo: o de
tornar-se uma sociedade de trabalhadores que rezam, ou de rezadores que se
matam à força de penitências”.(2) Em todo caso, ficou ele conhecido como o
pai do monasticismo do Oriente, como São Bento o é do Ocidente.
Sua firmeza contra os arianos e a
“Basilíada”
Em 370, ficando
vacante a diocese, o povo de Cesaréia escolheu Basílio para preenchê-la. “A
notícia dessa escolha provocou uma satisfação extraordinária em Santo Atanásio,
e ele anunciou a partir daí as vitórias que São Basílio alcançaria sobre a
heresia reinante”.(3) Com efeito, protegidos pelo imperador, uma minoria de
bispos sufragâneos de Basílio, adeptos do arianismo, deram-lhe muito trabalho.
Mas, com anos de tacto, “temperando sua correção com a consideração e sua
gentileza com a firmeza”, no dizer de São Gregório Nazianzeno, conseguiu
vencer seus oponentes.
Para socorrer as misérias materiais de uma cidade
grande como Cesaréia, Basílio nela fundou, em grande terreno que lhe fora dado
pelo imperador, uma verdadeira cidade da caridade, que passou a ser conhecida
como “Basilíada”. Diz São Gregório que essa obra “pode ser contada entre as
maravilhas do mundo, tal é o grande número de pobres e de doentes que ali são
recebidos, tanto são admiráveis a ordem e o asseio com os quais trata-se das
diversas necessidades dos infelizes”. O conjunto tinha hospital, albergue e
escola para jovens. Homens e mulheres tinham pavilhões separados. Amplos
jardins os dividiam, e no centro estava espaçosa igreja.
Enfrentando o imperador ariano
O Imperador Valente era de um temperamento muito
violento, e para evitar um choque na execução dos decretos de exílio dos bispos
católicos, quis ele mesmo visitar as várias cidades do Império. Mas em
Cesaréia, dada a grande personalidade de São Basílio, quis preparar o terreno.
Mandou então que alguns bispos arianos fossem conversar com Basílio, para ver
se conseguiam levá-lo a aderir à heresia. Este não só não quis ouvi-los, mas os
excomungou.
O prefeito Modesto chamou então o bispo
recalcitrante. Com boas palavras, tentou induzi-lo a aceitar a heresia ariana.
Como Basílio nem lhe desse ouvidos, ameaçou-o gradativamente com confiscação de
bens, exílio, tormentos e morte. São Gregório, que estava presente, descreve a
cena:
— Ameaçai-me de qualquer outra coisa, porque
nada disso me impressiona,” respondeu-lhe Basílio.
— Que dizes!?
— Aquele que nada tem, está a coberto do
confisco. Não tenho senão alguns livros e os trapos que visto; imagino que não
sois zeloso de m’os tirar. Quanto ao exílio, não vos será fácil condenar-me: é
o Céu, e não o país em que habito que eu considero minha pátria. Eu temo pouco
os tormentos. Meu corpo está num tal estado de magreza e de fraqueza, que não
poderá sofrer por muito tempo. O primeiro golpe terminará minha vida e minhas
penas. Temo ainda menos a morte, que me parece um favor. Ela me reunirá mais
cedo ao meu Criador, por Quem somente vivo.
O imperador não teve êxito maior. Por isso resolveu
entregar-lhe logo a ordem de exílio. Mas a Providência velava. Essa noite mesmo
o príncipe imperial Valentiniano Gálata, de seis anos, foi acometido por uma
febre tão violenta, que os médicos se confessaram impotentes para qualquer
coisa. A imperatriz fez notar ao marido que isso era uma justa punição por ter
exilado o Bispo, e insistiu em que o chamasse para curar o filho. Basílio ainda
não tinha partido. Mal chegou ao palácio, o menino começou a melhorar. Afirmou
ao imperador que o menino sararia, contanto que ele prometesse educá-lo na
verdadeira religião, a católica. A condição tendo sido aceita, o Bispo rezou
junto ao leito do menino, que ficou instantaneamente curado.
Entretanto, pressionado pelos bispos arianos,
Valente não manteve sua palavra. Pelo contrário, fez batizar logo o menino por
um dos bispos hereges. O menino teve uma imediata recaída e morreu pouco
depois.
O terrível golpe não converteu o imperador, que
condenou novamente Basílio ao exílio. Quando lhe trouxeram a ordem para
assinar, a haste de bambu que lhe servia de caneta quebrou-se em sua mão. Outra
haste foi trazida, e teve o mesmo fim. Uma terceira também quebrou-se. Quando
Valente fez vir uma quarta, seu braço foi tomado de tremor e de uma agitação
extraordinária. Apavorado, ele rasgou a ordem e deixou o arcebispo em paz.
São Basílio, declarado “Magno” e “Doutor da
Igreja”, faleceu no dia 1º de janeiro de 379.(4)
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Notas:
1. Les Petits Bollandistes, Vies
des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo VII, p. 8.
2. Fr. Justo Perez de Urbel,
O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 616.
3. Les Petits Bollandistes, op.
cit., p. 14.
4. Apresentamos neste mês a festa
de São Basílio, como era antigamente “por ser a data de sua sagração como
bispo de Cesaréia, na Capadócia” (Martirológio Romano, ed. de 1954).
Atualmente ela é comemorada a 2 de janeiro.
Outras obras consultadas:
Edelvives, El Santo de Cada
Dia, Editoral Luis Vives, S.A., Saragoça,1947, tomo III, pp. 453 e ss.
The
Catholic Encyclopedia, Volume VI, Copyright © 1911 by Robert
Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight
Fonte:
Igreja Católica Apostolica
Ortodoxa de Antioquia
Patriarcado de Mexico, Venezuela
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